Vírus Melissa, a dançarina que custou US$ 80 milhões

Em 1999, um cara de Nova Jersey mostrou ao mundo como um simples anexo de Word podia virar uma arma de destruição digital em massa. E detalhe ele nem queria dinheiro.

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Olha só, se hoje você já hesita antes de abrir um anexo no e-mail, agradeça (ou xingue) David L. Smith. Ele era um programador comum, desses que curte testar limites e brincar com códigos. Só que a brincadeira dele deu ruim. Muito ruim mesmo!. Tipo travar servidores da Microsoft, da Intel, dos fuzileiros navais dos EUA e causar um prejuízo estimado em US$ 80 milhões.

Tudo começou com um arquivo do Microsoft Word inocentemente batizado com um nome chamativo: “List.doc”. Dentro dele, uma promessa que muitos não resistiriam nos anos 90 (alguns até hoje…): senhas de sites adultos. O tipo de coisa que você recebe e pensa: “vamos ver se funciona” e é aí que o caos começa.

O ataque: rápido, automático e devastador

Ao abrir o arquivo, o script (escrito em VBA – Visual Basic for Applications, a linguagem de macros do Word) executava um código que usava o Microsoft Outlook da vítima para se replicar, disparando cópias do vírus para os 50 primeiros contatos da lista de e-mails. Imagina o estrago numa época em que o e-mail era praticamente o único canal oficial de comunicação em empresas?

Em poucos dias, o vírus entupiu servidores corporativos, causou travamentos em redes inteiras, apagões de e-mails e um colapso momentâneo na confiança digital. O Melissa foi tão agressivo que algumas empresas simplesmente desligaram seus servidores de e-mail para conter a disseminação. A Microsoft, a Intel e até agências governamentais sentiram o golpe.

O criador, David Smith e sua motivação (ou falta dela)

O mais absurdo? David Smith não queria lucrar com isso. Nada de extorsão, chantagem ou Bitcoin (nem existia isso ainda). O cara só queria testar o poder de um vírus “divertido”. Nomeou o código como Melissa em homenagem a uma dançarina que ele conheceu na Flórida (nada como um toque pessoal no apocalipse digital).

Mas a sua brincadeira gerou sérias consequências. O FBI rastreou Smith através dos logs de e-mail e bateu à sua porta rapidinho. Ele foi preso e, em 2002, condenado a 20 meses de prisão e uma multinha simbólica de US$ 5.000. Claro, cooperou com as autoridades depois, ajudando a entender como funcionava a propagação de vírus.

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Certamente o Melissa foi o divisor de águas. Antes dele, vírus de computador eram vistos como brincadeiras de adolescentes geniais, coisa de garagem, underground. Depois de Melissa, ninguém mais duvidou do estrago que um scriptzinho de Word podia fazer.

Empresas correram para instalar antivírus decentes. Usuários começaram a desconfiar de anexos (finalmente!). A indústria de segurança digital deu um salto de maturidade, e governos começaram a discutir leis específicas para crimes cibernéticos.

E Smith? Sumiu do radar. Viu que não valia a pena brincar de hacker. Se arrependeu publicamente e vive discretamente até hoje.

O legado (porque sempre tem um)

Melissa abriu caminho para uma nova era de ameaças: ransomwares, worms, trojans. Mostrou que um indivíduo com um computador e criatividade podia colocar megacorporações de joelhos. Hoje, ataques muito mais sofisticados usam técnicas herdadas diretamente desse modelo: engenharia social, anexos maliciosos, automação de replicação. Melissa foi o primeiro aviso em CAPS LOCK.

Olha que loucura se um Word com senha de site pornô travou o mundo em 1999… hoje, com IA, deepfake e ransomware-as-a-service, o que pode acontecer com um clique errado?